3 de outubro de 2014

Famílias Camponesas do Semiárido Paraibano reafirmam ações de luta pela conservação das Sementes da Paixão

Nesta última quarta-feira (01.10) quase 70 lideranças agricultoras das regiões do Cariri, Seridó e Curimataú Paraibano, participaram de mais uma atividade pedagógica sobre o papel dos Guardiões das Sementes da Paixão para fortalecimento da Agricultura Familiar Camponesa em preparação para a 6ª Festa Regional das Sementes da Paixão. A 6ª Festa Regional será realizada dia 06 de novembro, na comunidade São Felix, município de Santo André (PB), tendo como tema “Resistir as ameaças, cultivando vidas!” tem como perspectiva receber mais de 500 agricultores e agricultoras.

A história da Agricultura Camponesa no semiárido brasileiro tem resistido as ameaças do avanço das interfaces do agronegócio, por meio de ações coletivas de resistência, solidariedade, convivência com as adversidades do clima, construção de conhecimentos, resgate e valorização da cultura, além de outras tantas estratégias de luta.

É dessa mesma forma que famílias agricultoras guardiãs da biodiversidade conservam e garantem a continuidade de espécies nativas de plantas, sementes e animais existentes na região por meio da partilha de conhecimento. Através do repasse de geração em geração, as famílias garantem a conservação e reprodução do patrimônio genético e do conhecimento integrante de sua história.

As famílias guardiãs das sementes da paixão reafirmam o sentimento de amor pela semente que elas guardam. “Ser guardião da semente da paixão, é ser um guardião de um patrimônio”, afirma Aldo Cesar, agricultor do município Santo André. É emocionante e perceptível a alegria e carinho com que cada agricultor/a fala sobre as sementes. Para as famílias trata-se de fato do maior e mais precioso tesouro que elas receberam como herança familiar. É um patrimônio que já faz parte da árvore genealógica de cada família, sua verdadeira paixão.

Mesmo quando acontece da semente da paixão ser perdida a família guardiã permanece com o desejo e lutam para recuperar a semente. Nesse sentido, na maioria das vezes são as mulheres que assumem esse importante papel de resgate e multiplicação das sementes.

A família de Maria das Dores Medeiros, mais conhecida como Dorinha, liderança agricultora do município de Cubati e Guardiã da Fava Cearense, após dois plantios com a produção reduzida, antes de perder a semente, por conta da estiagem prolongada, conseguiu multiplicar as sementes, recebendo doação das sementes de uma família de Nova Palmeira, município vizinho.

Alguns belos exemplos desse sentimento foram relatados no vídeo “Guardiãs/ões da Biodiversidade cultivando vidas no semiárido”, produzido pelo Coletivo Regional e Patac, em parceria com entidades, como: Heifer Internacional, Misereor, Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Rede Sementes da ASA Paraíba, Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), entre outros. O vídeo é mais um material político pedagógico que expressa a riqueza de conhecimento e da biodiversidade existente no território, e as ações que estão sendo desenvolvidas no sentido de enfrentar as ameaças existentes no território e garantir a continuidade da agricultura familiar camponesa no semiárido.

É através das experiências e da força dessas famílias que todo esse trabalho vem se multiplicando e fortalecendo a cada dia. Relatos como o depoimento dado por Luciana Pereira, Assentamento Docelina, que antes trabalhava nas plantações de tomates, produzidos com intenso uso de agrotóxicos e hoje tendo direito a acessar a água para produção de alimentos, garante a saúde e a segurança alimentar de sua família.

“Antes, quando eu não tinha conhecimento, eu trabalhava nos campos de tomate e o dinheiro que recebia mal dava para pagar os remédios que tomava, pois eu só vivia doente. Hoje eu não preciso mais disso, pois eu tenho coentro, tomate, couve, alface, jerimum, feijão, milho, macaxeira e um bucado de fruteira ao redor de minha casa. Só de um pé esse ano a gente conseguiu lucrar mais de 70 jerimuns. Hoje eu não preciso mais trabalhar nos campos de tomate, tenho minha saúde de volta”, afirma a agricultora.

Outro relato significativo foi apresentado por Aparecida Campos, conhecida por todos como Cida, liderança do Coletivo Regional: “Nós do município de Soledade, estamos muito otimistas, pois só nesse ano, estocamos 344 toneladas de forragem para animais, produzidas por 27 famílias de 14 comunidades do município”, disse Cida. 

A articulação de novas comunidades, as sistematizações das experiências das famílias guardiãs, intercâmbios, reuniões com os Bancos de Sementes Comunitários (BSC), criação de novos BSC, mapeamento dos bancos de sementes e guardiões, oficinas sobre armazenamento de forragem, valorização da cultura local; são algumas das ações que estão sendo desenvolvidas como processo preparativo para realização da festa.

Ao final do encontro, foram tirados alguns encaminhados, compromissos, ações de mobilização, mapeamento e articulação, como estratégias para intensificar o processo de preparação para a realização da 6ª Festa Regional das Sementes da Paixão. O sentimento de todo o Coletivo Regional é que a festa seja mais um momento de celebrar as conquistas obtidas nessa caminhada, mas também de continuar fortalecendo a luta pela construção de um território com base na agroecologia e na convivência com o semiárido.


Patrícia Ribeiro
Comunicadora Popular PATAC

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