18 de maio de 2011

A esperança que renasce no semiárido contagia adultos e jovens

Os adultos se emocionam ao lembrar os momentos difíceis que vivenciaram no passado e os jovens se entusiasmam com as possibilidades que se apresentam para que eles dêem continuidade ao trabalho desenvolvido por seus pais no campo.


Patrícia Ribeiro - Comunicadora Popular da ASA
Campina Grande - PB
18/05/2011


Dona Maria de Lurdes exibe o produto do seu quintal, por trás dela a cisterna-calçadão.
Por meio de práticas inovadoras, trocas de experiências, formação e organização popular, diversas organizações sociais que compõe a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) transformam concretamente a vida de famílias agricultoras do semiárido nordestino, apresentando novas perspectivas à juventude rural da região. Marcada por diversas histórias de luta e sofrimento à procura de água nos períodos de seca, atualmente a região se reveste de uma nova imagem, reafirmando a importância de ações de convivência com o semiárido como alternativa sustentável para o desenvolvimento da agricultura familiar camponesa.

Os programas da ASA - Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Uma Terra e Duas Águas (P1+2) - representam a continuidade de um trabalho que vem sendo desenvolvido há mais de 40 anos em todo o país. Com as experiências vivenciadas através desses programas, famílias, jovens e pessoas que foram para grandes metrópoles a procura de emprego, recebem hoje as boas novas sobre a região e retornam ao semiárido com a esperança de reconstituir suas vidas dignamente através da agricultura familiar.

Um exemplo dessa realidade é a experiência de dona Maria de Lurdes Eusébio Luiz (61 anos), que vive atualmente na comunidade Sussuarana, município de Juazeirinho. Ela conta que ainda jovem foi para o Rio de Janeiro à procura de emprego e se surpreendeu com a mudança radical da região ao retornar em 2006. A agricultora afirma que desde que retornou não consome mais produtos com agrotóxicos: “Eu não compro mais nada fora de casa, tudo com agrotóxico. Aqui é tudo natural é outra coisa. No Rio, eu vivia com as pernas inchadas, com problema de rim. Aqui eu num sinto nada, minha saúde melhorou muito, trabalho muito, mas vale a pena”.

Em novembro de 2009, através do programa P1+2, Lurdinha recebeu apoio para construção da cisterna calçadão. Com isso, a agricultora tem diversificado sua propriedade com a plantação de diversas espécies nativas e adaptadas à região como: pinha, mamão, alface, alho-poro, aipo, cenoura, hortelã, abobrinha, quiabo, entre outros cultivos.

Tudo o que é produzido na região pelos agricultores familiares agroecológicos, além de ser consumido pelas próprias famílias, é distribuído na comunidade e comercializado através do Programa Nacional de Alimentação nas Escolas (PNAE), do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e da Bodega Agroecológica, o ponto de divulgação e distribuição dos produtos agroecológicos das famílias agricultoras da região. O espaço foi desenvolvido pelo Coletivo Regional de Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Curimataú e Seridó Paraibano.

Já Alidiane Carlos de Oliveira (23 anos), da comunidade Ilha Grande em Juazeirinho, não pretende sair do campo e comenta sobre sua atuação política na comunidade: “Sou coordenadora da comunidade Ilha Grande e atuo nesses trabalhos do Coletivo. Faço parte da comissão municipal de Juazeirinho, da comissão água, e agora sou agricultora articuladora, também já ministrei curso de GRH [Gerenciamento dos Recursos Hídricos] e ultimamente do GAPA [Gerenciamento da Água para Produção de Alimentos]”.

A família de Alidiane possui uma cisterna de placa, construída através do P1MC. A jovem comenta sobre as mudanças na vida da família: “A principal mudança que percebemos foi com relação à economia de água, porque as pessoas usavam a água servida, mas não viam o benefício que ela trazia. Hoje não, as coisas já são diferentes, a gente já sabe melhor aproveitar essa água”.

Elânia Nunes de Oliveira é uma jovem de 25 anos, que vive com sua família na comunidade São Félix e participa do grupo de jovens da comunidade Suçuarana, o qual existe desde 2008. O grupo desenvolve diversos trabalhos na comunidade: música, mamulengo, dança, teatro, e ainda, trabalha com o beneficiamento de frutas. Esse trabalho foi iniciado a partir das visitas de intercâmbio feitas em outras comunidades da região.

A jovem agricultora percebe como a vida da família foi transformada após a chegada das cisternas: “A vida mudou muito porque antes era muito difícil. As pessoas andavam quilômetros e mais quilômetros pra pegar uma lata d’água e hoje nós temos a cisterna em casa... nós temos o maior cuidado, nós cuidamos da cisterna de beber, como se fosse uma criança, porque é aquela coisa sensível. A cisterna é uma garantia durante o ano, então se vier um ano de seca, nós temos água de beber de qualidade”.

Os jovens participam ativamente da vida comunitária, dos processos de formação política e agroecológica, dos espaços públicos, como protagonistas e representantes da comunidade onde atuam. A juventude rural está atenta para as inovações tecnológicas e descobriram que podem usufruir desses benefícios, permanecendo no campo e desenvolvendo seus conhecimentos para aperfeiçoar as experiências existentes, vivendo com mais saúde, tranquilidade e, ainda, convivendo em harmonia com o semiárido.

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